Atração Perigosa (The Town) - 2010. Dirigido por Ben Affleck. Escrito por Ben Affleck, Peter Craig e Aaron Stockard, baseado na livro O Príncipe dos Ladrões de Chuck Hogan. Direção de Fotografia de Robert Elswit. Música Original de David Buckley e Harry Gregson-Williams. Produzido por Basil Iwanyk e Graham King. Warner Bros. Pictures e GK Films / USA.
Para um cinéfilo, uma das melhores sensações é a de ser surpreendido positivamente por um filme, do qual pouco se esperava. Aconteceu comigo mais uma vez, comecei a ver Atração Perigosa (2010), segundo longa dirigido pelo ator Ben Affleck, com uma grande desconfiança, confesso que não esperava dele nada que fosse além do convencionalismo típico da maioria dos filmes de ação hollywoodianos. Contudo, ele começou a me surpreender já nos primeiros minutos, tanto pela boa qualidade técnica e pelas atuações, quanto pelo ritmo frenético que ele adquire já na sequência de abertura. Ben Affleck chega a demonstrar segurança como diretor e isto fica perceptível pela escalação do elenco, pelo bom resultado das tomadas externas e principalmente pelo fato de o filme não ser arruinado pela sua trama (que é repleta de clichês), aspecto este que seria ao meu o seu calcanhar de Aquiles.
O filme começa mostrando um assalto à uma agência bancária do subúrbio de Boston. Quatro homens encapuzados e mascarados descem de uma van e invadem o prédio, eles rendem os funcionários e clientes e obrigam a gerente a abrir o cofre. Neste meio tempo, um outro funcionário consegue disparar o alarme, mas os bandidos percebem e fogem antes da chegada da polícia, levando a gerente como refém; ela é solta logo em seguida próximo à uma praia... Doug MacRay (Ben Affleck) é o cabeça do grupo, ele é descendente de uma família que está envolvida há gerações com o crime organizado, que seria segundo ele a principal atividade de sua cidade. Ele e sua gangue são oriundos do bairro de Charlestown, que ficara famoso por ser um dos mais violentos da cidade e o celeiro de um grande número de ladrões de bancos.
Jem (Jeremy Renner) é amigo de infância e o braço direito de Doug, ao contrário deste, ele é impulsivo e extremamente agressivo, apesar disso eles aparentemente se respeitam, porém um atrito começa a surgir entre eles quando Jem descobre que a gerente que eles haviam sequestrado também mora em Charlestown, o nome dela é Claire (Rebecca Hall) e ela atua como voluntária em um projeto social na vizinhança. Doug garante que irá segui-la para assegurar que ela não faça nenhuma besteira, mas Jem prefere resolver o problema de uma forma mais radical... O mote principal da trama, que justifica o nome tosco que o filme ganhou ao ser lançado no Brasil, surge quando o assaltante se aproxima mais do que deveria de Claire e a seduz, ela que ainda estava fragilizada e traumatizada passa a ver nele uma espécie de protetor e não demora muito e eles começam a namorar. Doug enxerga no relacionamento uma oportunidade de recomeçar, no entanto será difícil para ele abandonar a vida que lhe fora legada pela sua família...
O agente do FBI Adam Frawley (Jon Hamm), que já estava há algum tempo no encalço da gangue de Doug, avança na investigação com a ajuda de Claire. Ele vai chegando cada vez mais perto dos assaltantes e se torna uma questão de tempo até que as identidades deles sejam reveladas e a tensão aumenta à medida que a trama caminha para isso... Como eu já havia dito, a história tropeça em uma quantidade enorme de clichês (dentre eles o do bom bandido que se apaixona pela mocinha e se arrepende de seus crimes, o do gangster de temperamento instável que coloca a vida de todos á sua volta em risco e o do policial incansável e incorruptível que se arrisca para colocar os bandidos atrás das grades) e a trama repleta de fórmulas manjadas conduz o filme a um desfecho até satisfatório, porém bastante previsível... Todavia, a boa notícia no meio disso tudo é que o filme possui elementos que compensam, ao menos em parte, a má qualidade de seu roteiro.
As atuações são de longe o principal destaque do filme, Jeremy Renner está excelente, o que justifica sua indicação ao Oscar de Melhor ator Coadjuvante. A Rebecca Hall consegue, com uma notável destreza, salvar sua personagem da superficialidade sob a qual ela foi construída e Jon Hamm está muito bem na pele do policial obstinado e determinado a cumprir seu trabalho. Já Ben Affleck entrega mais uma atuação 'café-com-leite', que apesar de mediana não chega por si só a prejudicar o filme como um todo, isto por causa das boas interpretações do restante do elenco, com quem ele contracena. A fotografia do longa é outro aspecto que merece ser comentado, as locações do filme são capturadas em um tom na maioria das vezes descolorido ou de predominância de cores frias, o que percebo como uma clara referência à frieza dos personagens e do ambiente no qual eles vivem.
Atração Perigosa me surpreendeu por ter sido melhor que o esperado, no entanto não posso dizer que ele seja um filme excelente e muito menos indispensável. É notável que Ben Affleck tenteou dar a ele uma profundidade dramática maior, no entanto ele não foi tão bem sucedido nisso. Atração Perigosa é um bom filme de ação, com cenas bem filmadas e boas atuações, que no fim das contas vale como um bom entretenimento. Recomendado para os apreciadores do gênero!
Atração Perigosa recebeu uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Jeremy Renner)
A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.






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